quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Amor platônico x amor romântico

Foi com muita tristeza e dor no coração que vi uma das minhas mais lindas fantasias ser destruída. O palco da atrocidade: a aula de literatura. O assassino: Platão. O assassinado: o amor platônico.

Alguém, em algum momento da história da humanidade, sugeriu que amor platônico e amor romântico fossem a mesma coisa, e todo mundo acreditou (inclusive eu). Só que eis a realidade: NÃO SÃO a mesma coisa! E quem explica isso é a filosofia. Veja bem: a filosofia, ciência da racionalidade, explicando a subjetividade do amor. Ficou confuso(a)? Não se angustie, Platão me deixou assim também.

Segundo o filósofo, o amor platônico não tem fases. Ele é único, completo e perfeito. Ele nasce e permanece na mente do homem, ideal, fechado em si próprio, vivido e gozado apenas no campo das idéias, morada da plenitude, onde ele é perfeitamente possível. O amor platônico não deseja, pois a identificação está no intelecto, e não no campo carnal. Só a idéia do amor basta, só ela já é suficiente; não há necessidade de concretização, e a pessoa não sofre por causa disso. Pelo contrário, ela evita o amor carnal conscientemente, pois sabe que quando o amor se realiza, ele deixa de ser equilibrado e pleno, pois uma vez real ele se manifesta como uma cópia do ideal, e toda cópia, segundo Platão, é imperfeita e deve ser evitada.

A pessoa que vive um relacionamento platônico se relaciona com uma projeção, com uma representação do ideal. Por exemplo: Laura tem como modelo ideal de relacionamento Brad Pitt. Então, num belo dia, ela conhece Brad Silva, cópia fiel de Pitt, e iniciam um relacionamento. Só que Silva é uma mera reprodução, uma representação no real do ideal de Laura, e jamais será perfeito como o Pitt dos sonhos dela. E justamente por não ser perfeito veio com uma série de defeitos de fábrica que fizeram que com que nossa amiga, depois de um tempo, desejasse nem tê-lo conhecido.

Se Laura tivesse seguido os conselhos de Platão, ela não teria começado o namoro com Silva e seu amor permaneceria no status de platônico. Porém, uma vez iniciado, ele foi promovido (ou rebaixado) ao patamar de romântico.

Aquele amor lindo, perfeito, impossível e cheio de problemas dos contos de fadas é o nosso velho conhecido amor romântico. Veja se reconhece: é ele que te faz perder noites em claro, sofrer, perder a concentração, sofrer, perder a razão, sofrer, perder o amor-próprio, sofrer mais um pouco... Enfim, uma paixão. É esse o vírus que te adoece. Sim, porque para o Dr. Platão, paixão nada mais é do que uma doença que desequilibra o organismo. E como toda e qualquer doença, deve ser evitada. E como se combate a paixão? Com o amor platônico, é claro.

Será que eu nenhum momento Platão imaginou o quanto uma paixão pode inspirar um ser humano? Será que ele não pensou que uma paixão pode ter outros fins, como uma causa social ou um projeto pessoal? O que será que aconteceu com Platão para ele ser tão racional? Que pessoa amarga!

Eu não sou a criatura mais emotiva que vocês conhecem, mas me recuso a digerir a racionalidade crua de Platão. Todos nós precisamos de um amor (romântico, por favor), de uma paixão de vez em quando para colorir nossas vidas. Se paixão é doença, que seja uma doença saudável e que todos nós sejamos gravemente contaminados pelo menos 5 vezes na vida!

Continua confuso(a)? Eu também.

6 comentários:

Aline Dianna disse...

Pois é, eu também fiquei frustradíssima com isso haha

Admito que a existência deve ser bem mais tranqüila e confortável se seguirmos o modelo de Platão, sem grandes sustos, sem grandes emoções. Mas... e quem disse que queremos tranqüilidade?

Como já diria o Selvagem de Admirável Mundo Novo: "But I don't want comfort. I want God, I want poetry, I want real danger, I want freedom, I want goodness. I want sin."

E eu quero a p***a do Pathos também, diabos!

Aline Barbosa disse...

Pois é... Enganou a todos nós.
Nada como uma aula de Thiago pra esclarecer e frustrar nossas idéias... huahaua

Então... Eu tbm quero a p***a do Pathos! Eu mereço, todo mundo merece... xD
A vida é tão única por todos esses "problemas"...
Viver sem ser, como diz Platão, "contaminado", não é viver... É existir apenas...


Enfim... Repetindo: Nanda, vc escreve mto bem! Seus textos são ótimos...
E ri mto no "Se Laura tivesse seguido os conselhos de Platão..." huahauah

Bjão!
\o7

Anônimo disse...

[b][red] moça, vc realmente falou bonito!
o problema é que eu andei lendo q, além de tudo isso, existe a diferença entre o amor platônico e o amor segundo platão... Isso me acaba, cara...
Da uma lida no wikipedia:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Amor_plat%C3%B4nico

E depois comenta comigo, please.
Se puder (e quiser) me add no orkut pra filosofarmos:

http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?uid=1091282252417095422

Anônimo disse...

Poxa eu tinha de fazer um trabalho de filosofia sobre a diferença entre os dois amores só que havia perdido a aula de explicação ,só que quando li este texto tive uma completa compreensão doque cada amor representa suas consequencias e em qual campo eles agem.. MUITO OBRIGADO MESMO!!! o texto ficou perfeito e muito claro

Damiana disse...

O amor platonico pode até ser bonito para o poeta, filosófo... mas, não existe nada mais lindo que o amor verdadeiro. Esse sim vale a pena viver!

Wilaa HotMilk disse...

Se não se importa, eu vou copiar isso e ler na minha aula de literatura!

Eu estava passando aqui procurando uma definição comum dos dicionários virtuais pois me confundi nisso lendo algo num anime que cita ambos tipos de amor, e quem me diria que eu iria encontrar meu querido Platão, não é mesmo?

Fernanda, eu realmente amei sua publicação, e posso dizer que faço parte das pessoas que raramente elogiam as outras rsrsrs