segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Prestação de contas

Uma rápida nota apenas para justificar minha demora em postar novos textos. São dois os motivos: falta de criatividade e tendinite.

Sim, tenho tendinite no braço direito e ela voltou a incomodar recentemente. Também, com a intensificação da dobradinha “computador + compulsão por escrita à mão” não tinha como ela não acordar. Mas está tudo bem, só preciso diminuir a carga pra ela dormir novamente.

Quanto à criatividade... Acontece com os melhores escritores (risos, risos).

Até já.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Fuga fatal

Hilda não aguentava mais o cativeiro. Estava inquieta, era difícil controlar a ansiedade. Seria naquele dia. Não ia mais esperar.

Veio Marcelino, seu acompanhante de anos, levá-la para mais uma refeição. Não comia nem tomava banho sozinha, era permanentemente vigiada. Ignorava os olhares e os assédios. Fazer as necessidades em público era algo tão natural quanto tomar banho de sol.

Marcelino distraiu-se. Hilda, num impulso suicida, correu contra o portão e conseguiu quebrá-lo. Liberdade, enfim! Correu, correu, correu descontroladamente, sem olhar para trás, sem olhar para os 40 anos de prisão que estava deixando para trás.

De repente uma luz. Uma buzina. Um freio. Um impacto.

Hilda sentiu a frieza do chão contra seu enorme corpo. Gritos de desespero vinham do veículo que fora de encontro a ela. Estava tonta, cheia de dor. Não conseguiu se comunicar, e mesmo que conseguisse talvez não a entendessem, ninguém ali falava sua língua. Mesmo as expressões do seu rosto eram indecifráveis.

Finalmente o conforto chegou. Dormência. Escuridão total. Silêncio.

Do ônibus que a atingira, só o motorista não resistiu. Os passageiros sobreviveram para verificar, chocados, ter sido Hilda, elefante de cinco toneladas que fugiu do Circo Union, a responsável pela tragédia.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Pequenos grandes prazeres

É estranho descobrir que existem pessoas que não gostam de certas coisas, algumas essenciais como beber água, outras prazerosas como ouvir música. É uma sensação de “como é que alguém pode viver sem isso?”. Mas vive. Não sei como, mas vive.

Comer, por exemplo. Já conheci gente que não gostava de comer. Não porque estivesse acima do peso ou porque vivesse de dieta... Simplesmente não gostava. Esquecia de fazer as refeições, inclusive. Nem essas besteirinhas, esses petiscos que todo mundo adora... Nada. Não achava graça em se nutrir (ou pelo menos era essa a justificativa que me davam). Uma vez saí com uma dessas pessoas para fazer um lanche e ela pediu um croissant com uma falta de entusiasmo tão grande que quase me tirou o apetite, parecia que estava sendo obrigada a se alimentar. Comeu só metade e se deu por satisfeita. A outra metade ficou lá, jogada, com o maravilhoso e farto recheio se esparramando pelo prato e quase gritando “me coma, me coma!”. E da mesma forma como foi com o croissant era com todo tipo de alimento. A comida, uma grande satisfação na vida da maioria das pessoas, não conseguia despertar o prazer deste ser humano.

Também já conheci quem não gostasse de beber água. Pra matar a sede, bebia de tudo: suco, refrigerante, bebidas alcoólicas das mais diversas... Mas água, água mesmo, simples e pura, não bebia. Uma amiga me disse que isso é mais comum do que eu imagino, que o número de pessoas que não bebem água porque não gostam é enorme. Fico me perguntando o que será que elas não curtem na água. Do gosto não pode ser, porque aprendemos no primário que água é insípida, portanto este argumento é inválido. E mesmo que valesse, este problema já estaria resolvido graças à enorme oferta de águas “com gosto de” que temos no mercado atualmente. Será que essas pessoas desenvolveram tanto o paladar bebendo outras coisas que a água ficou sem graça? Pobre água, tão saudável. É bom que sobra mais pra mim e pra quem gosta, já que estamos em vias de ficar sem ela nas próximas décadas.

E música? Já conheceu alguém que não gostasse de música? Eu já. É mais fácil achar quem não goste de assistir a filmes... Mas a pessoa não curtia música. Nenhum estilo. Não tinha paciência para ouvir as músicas até o final, dava nervoso, ansiedade. Se a música tinha 2 minutos de duração, só ouvia o primeiro minuto. Se tinha menos, nem se dava ao trabalho de começar. Como é que pode? Uma vida sem música é, definitivamente, uma vida infeliz.

Sei que às vezes existem patologias por trás dessas características; mesmo assim me pergunto como é não gostar dessas coisas todas, que adoro e sem as quais não poderia viver. Pequenos rituais que tornam a existência mais leve e colorida. Porque há dias que só uma comida deliciosa, um copo enorme de água fresca ou uma das minhas músicas favoritas é capaz de salvar.

domingo, 21 de setembro de 2008

Um grande ritual Shakespeareano

Grandes oportunidades de entretenimento podem surgir de acontecimentos inusitados. Quem algum dia imaginou assistir à uma peça de Shakespeare encenada por atores japoneses aqui em Salvador? Pois foi essa novidade que fui conferir: a montagem de “Muito Barulho Por Nada” realizada pelos talentosos profissionais do grupo Euro-Japan Theatre Organization/Théâtre du Sygne, com direção de Seya Tamura.

Apresentando diálogos em japonês e legendas em português, “Karasawagi” (título da versão japonesa da obra) conta algumas histórias, entre elas a de Benedito e Beatriz, dois jovens sagazes, bem articulados, espirituosos e rápidos em rebater perguntas e afirmações com respostas inteligentes. Entre danças, falsas acusações, cerimônias de casamento, calúnias, desafios, confrontos, flertes, festas e morte, eles irão descobrir um ao outro.

Com iluminação e trilha sonora típica impecáveis, este diferente e ótimo espetáculo veio nos brindar no ano do centenário de imigração japonesa no Brasil e será apresentado em outras cidades do país, tendo Salvador sido a primeira delas. O formato com legendas, apesar de se configurar como uma novidade para nós, é muito utilizado nos intercâmbios de artes cênicas pelo mundo afora.

Uma tragédia cômica (ou comédia trágica, como preferir), no melhor estilo Shakespeare. Espetáculo delicado, rico em detalhes, como muitas coisas inerentes à cultura japonesa. Destaque para a atriz Atsuko Ogawa, hilária na pele de Beatriz.

sábado, 20 de setembro de 2008

Contos proibidos, fatos ridículos.

Ontem, na aula de Oficina, nos dividimos em pequenos grupos e para cada um foi solicitado algo diferente. O meu ficou responsável por contar uma história engraçada, ridícula mesmo, envolvendo leitura. Trocamos idéias e ficou definido que a minha história era a mais espirituosa e, portanto, seria a que o grupo explanaria para a classe.

Há alguns anos atrás uma colega de um grupo do qual eu fazia parte comprou o livro “A Casa dos Budas Ditosos”, de João Ubaldo Ribeiro. Pra quem não conhece, este livro faz parte da série “Plenos Pecados”, da Editora Objetiva, composta por sete volumes, cada um escrito por um autor diferente e abordando um dos sete pecados capitais. Ele, no caso, trata da luxúria. É uma obra altamente provocante, pornográfica até. E foi por isso mesmo que, após ler e fazer a maior propaganda do livro, a dona teve que emprestá-lo a todo mundo.


O tempo médio que cada um passava com o livro na mão era de quatro dias, quando não menos. Todos, jovens e com os hormônios em pleno domingo de carnaval, devoravam o livro, até porque o seu conteúdo desperta mesmo a voracidade (em todos os sentidos) dos leitores. E depois vinham as resenhas e os comentários sobre as passagens favoritas, o que cada um já tinha feito, o que deu vontade de fazer, em quem pensou enquanto lia (quando se podia revelar essa informação), etc.

No entanto, um colega não conseguiu terminar de ler. Passou uma, duas semanas com o livro na mão e nada.

- Cadê o livro?
- Não consegui terminar de ler ainda...
- Pó, cara, tem uma galera que ainda não leu!
- Eu sei, eu sei...
- Deixa de ser egoísta. Você perdeu o livro?
- Não.
- Roubaram?
- Não, não...
- Então cadê o livro??
- Bem, é que...
- CADÊ O LIVRO????
- Olha, é o seguinte: eu não consigo terminar de ler porque, a cada duas páginas lidas, eu paro pra me masturbar.
- ...

E depois disso ninguém mais quis saber de pegar o livro emprestado. Nem a dona o quis de volta. A pergunta ficou no ar: será que todo mundo que leu o livro antes também se masturbou com ele? Todos se tornaram suspeitos, os olhares de quem não havia lido eram rancorosos e curiosos.

Qual foi o fim do livro? Bem, nosso colega sincero (e talvez o mais higiênico) ficou com ele. Até tentou passar adiante, sem sucesso. Espero que, pelo tempo, tenha conseguido terminar de lê-lo.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Amor platônico x amor romântico

Foi com muita tristeza e dor no coração que vi uma das minhas mais lindas fantasias ser destruída. O palco da atrocidade: a aula de literatura. O assassino: Platão. O assassinado: o amor platônico.

Alguém, em algum momento da história da humanidade, sugeriu que amor platônico e amor romântico fossem a mesma coisa, e todo mundo acreditou (inclusive eu). Só que eis a realidade: NÃO SÃO a mesma coisa! E quem explica isso é a filosofia. Veja bem: a filosofia, ciência da racionalidade, explicando a subjetividade do amor. Ficou confuso(a)? Não se angustie, Platão me deixou assim também.

Segundo o filósofo, o amor platônico não tem fases. Ele é único, completo e perfeito. Ele nasce e permanece na mente do homem, ideal, fechado em si próprio, vivido e gozado apenas no campo das idéias, morada da plenitude, onde ele é perfeitamente possível. O amor platônico não deseja, pois a identificação está no intelecto, e não no campo carnal. Só a idéia do amor basta, só ela já é suficiente; não há necessidade de concretização, e a pessoa não sofre por causa disso. Pelo contrário, ela evita o amor carnal conscientemente, pois sabe que quando o amor se realiza, ele deixa de ser equilibrado e pleno, pois uma vez real ele se manifesta como uma cópia do ideal, e toda cópia, segundo Platão, é imperfeita e deve ser evitada.

A pessoa que vive um relacionamento platônico se relaciona com uma projeção, com uma representação do ideal. Por exemplo: Laura tem como modelo ideal de relacionamento Brad Pitt. Então, num belo dia, ela conhece Brad Silva, cópia fiel de Pitt, e iniciam um relacionamento. Só que Silva é uma mera reprodução, uma representação no real do ideal de Laura, e jamais será perfeito como o Pitt dos sonhos dela. E justamente por não ser perfeito veio com uma série de defeitos de fábrica que fizeram que com que nossa amiga, depois de um tempo, desejasse nem tê-lo conhecido.

Se Laura tivesse seguido os conselhos de Platão, ela não teria começado o namoro com Silva e seu amor permaneceria no status de platônico. Porém, uma vez iniciado, ele foi promovido (ou rebaixado) ao patamar de romântico.

Aquele amor lindo, perfeito, impossível e cheio de problemas dos contos de fadas é o nosso velho conhecido amor romântico. Veja se reconhece: é ele que te faz perder noites em claro, sofrer, perder a concentração, sofrer, perder a razão, sofrer, perder o amor-próprio, sofrer mais um pouco... Enfim, uma paixão. É esse o vírus que te adoece. Sim, porque para o Dr. Platão, paixão nada mais é do que uma doença que desequilibra o organismo. E como toda e qualquer doença, deve ser evitada. E como se combate a paixão? Com o amor platônico, é claro.

Será que eu nenhum momento Platão imaginou o quanto uma paixão pode inspirar um ser humano? Será que ele não pensou que uma paixão pode ter outros fins, como uma causa social ou um projeto pessoal? O que será que aconteceu com Platão para ele ser tão racional? Que pessoa amarga!

Eu não sou a criatura mais emotiva que vocês conhecem, mas me recuso a digerir a racionalidade crua de Platão. Todos nós precisamos de um amor (romântico, por favor), de uma paixão de vez em quando para colorir nossas vidas. Se paixão é doença, que seja uma doença saudável e que todos nós sejamos gravemente contaminados pelo menos 5 vezes na vida!

Continua confuso(a)? Eu também.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Badalo

Todos o conhecem como Badalo. Ele reside no Centro Histórico e arredores, e é famoso na área. Não será difícil identificá-lo, comece pela roupa: normalmente é apenas um pano amarrado nos quadris. De vez em quando muda pra uma saia ou calça tamanho extra GG (quanto mais confortável, melhor). Caso o dia esteja mais frio, pode vir acompanhado de algum adereço na cabeça, um boné ou turbante. É um sujeito pacífico e alegre, gosta de cantar e dançar.

Ninguém sabe seu verdadeiro nome. O apelido foi dado porque ele tem um hábito curioso: gosta de andar nu. Quando você menos espera, ele pára no meio da rua, faz um discurso, tira a (pouca) roupa e fica pelado, pra quem quiser ver. Seria engraçado, se não fosse triste e chocante.

Um dos meus “encontros” com Badalo foi inesquecível. Foi numa manhã em que eu estava caminhando pela Rua Chile rumo ao trabalho. Estava distraída demais para prestar atenção ao que se passava ao meu redor, os pensamentos longe. Foi então que, de repente, algo me trouxe de volta à realidade: uma gritaria do outro lado da rua. Um bando de homens gargalhavam e gritavam para algo localizado à minha frente. Vi que se tratava de nosso amigo, nu em pêlo, vindo em minha direção. Numa questão de segundos fiz uma análise da cena: um ser humano nu, sem roupa, sem vergonha, sem pudor, sem limites, sem o que quer que fosse andando na rua enquanto um grupo de homens fazia chacota dele. Fiquei tão chocada com a reação do “público” - mais chocada talvez do que com a nudez propriamente dita - que nem percebi Badalo passar por mim.

Ele passou ao meu lado como se eu fosse invisível. Quase foi atropelado – imaginei que o motorista quisesse ver mais de perto aquela cena incomum. Apesar disso, não demonstrou qualquer sinal de perturbação, nem mesmo diante da algazarra que os homens estavam fazendo na rua. Algazarra esta, inclusive, que de tão grande me levou a achar que aqueles homens estavam profunda e sexualmente excitados com a explícita presença masculina de Badalo.

A situação toda me levou a refletir sobre algo. Aposto que nenhum daqueles homens reparou no físico fraco, na barba por fazer, na fisionomia de quem não está nem aí pra nada; ninguém pensou se aquele ser humano já tinha feito alguma refeição naquele dia, ou no motivo que o levou a agredir e chocar o mundo daquela forma. Os olhos deles foram direto no sexo. Como eu sei? Pelos comentários. As pessoas só comentam sobre a genitália. “É grande, é pequeno, só anda mole, como será que é duro...”. Fico imaginando um daqueles homens pensando “cara, o maluco tem o pau maior que o meu...”, porque é quase certo que algum deles - ou todos - pensou isso.

Também já presenciei reações femininas à Badalo. Entre gritinhos e risadinhas, as mulheres demonstram espanto, asco, medo. Saem correndo. Escondem os olhos com as mãos – mas deixam uma brechinha entre os dedos pra dar uma conferida no material. É como eu disse: o olho vai sempre lá. E comentam depois.


O sexo tem esse efeito hipnótico, magnético no ser humano, é instintivo. As pessoas olham e uma série de pensamentos ocorrem. Julgam. Criticam. Fantasiam. É o tabu que ao mesmo tempo em que intimida, atrai. Todos querem ver o cara que anda pelado pelas ruas do Centro Histórico. Afinal, não é todo dia que temos um pênis ambulante nas ruas de Salvador.

Nunca mais o vi. A última vez foi passando de carro pelo Comércio, há uns meses atrás. Ele usava o velho pano amarrado na cintura, como sempre, e sorria. Conversava consigo mesmo, talvez estivesse cantando sua música favorita. Espero que encontre um pouco do que perdeu – seja lá o que for - nas suas badalações pela cidade.

“To be, or not to be, that is the question.”*

A versão cinematográfica de Franco Zeffirelli para “Hamlet”, a mais famosa tragédia de Shakespeare, é bem fiel ao livro. Mel Gibson está carismático na pele do famoso príncipe da Dinamarca que, ao descobrir a verdade sobre a morte de seu pai, resolve vingá-lo. O elenco é ótimo e os atores estão bem em seus papéis. Os monólogos, no entanto, são um pouco chatos e podem aborrecer. Mas não desista, assista-o até o final. É um bom filme. Só não recomendo após um dia exaustivo de trabalho (risco de sonolência).

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TRADUÇÃO

*"Ser ou não ser, eis a questão."

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

The Prophet

“Teach me to love?
Go teach thyself more wit.
I, chief professor, am of it.
The god of love, if such a thing there be,
May learn to love from me.”

Trecho do poema “The Prophet”, de Abraham Cowley.

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TRADUÇÃO

O Profeta

“Ensinar-me a amar?
Ensine-se a brincar.
Eu já sou professor titular.
O deus do amor, se tal existir,

Aprenderá a amar comigo.”

(Para ler o poema completo - sem tradução - clique aqui.)

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

“Bonjour, ça va? Muy bien, gracias.”*

Quem trabalha com turismo passa por situações, no mínimo, curiosas. Essa aconteceu já tem um tempo, e sempre me lembro dela com um sorriso nos lábios, pois foi algo bem fora do comum e engraçado. Códigos diferentes, comunicação feliz.

A moça entrou no posto com os olhos meio assustados. Estava sozinha. Será que tinha sido assaltada? Mais tarde soube que era só insegurança de turista mesmo, ocorrência comum em quem viaja sozinho.

Como todos os agentes estavam ocupados, me ofereci para atendê-la. Meio vacilante, ela me saudou com um “hola, ¿qué tal?” com forte sotaque francês. “É francesa”, pensei, e arrisquei instintivamente um “bonjour, est-ce que je peux vous aider?”, com um sorriso radiante.

Ela, nem tchum pra mim, continuou “sí, por favor. ¿Dónde estamos?”. Dura na queda, não desanimei: “Nous sommes dans le Centre Historique de Salvador”. E ficamos nesse pingue-pongue bilíngüe uns 10 minutos.

No final, não resisti: “Quelle est votre pays?”. A resposta: “Francia”, em orgulhoso Espanhol, claro.


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TRADUÇÃO

*"Bom dia, tudo bem? Muito bem, obrigada."

“hola, ¿qué tal?” - Olá, como vai?

“bonjour, est-ce que je peux vous aider?” – Bom dia, posso ajudá-la?

“sí, por favor. ¿Dónde estamos?” – Sim, por favor. Onde estamos?

“Nous sommes dans le Centre Historique de Salvador” – Estamos no Centro Histórico de Salvador.

“Quelle est votre pays?” – Qual o seu país?

“Francia” – França

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Escrita Criativa

Sabe aquele lance de que quando você deseja muito uma coisa o universo conspira a seu favor? Eu detalharia dizendo que quando você tem um projeto em andamento e está no caminho certo, o universo sinaliza, colocando auxílios em seu caminho. Hoje encontrei um desses presentinhos cósmicos: algo totalmente inesperado, mas absolutamente bem-vindo.

Há um estabelecimento próximo ao meu trabalho onde costumo almoçar de vez em quando. É uma mistura de sebo com restaurante, e uma das características de lá que mais me agrada é o fato de não ter cheiro de mofo (o que para um sebo é bem difícil). Sempre que vou almoçar aproveito para dar uma vasculhada nas prateleiras depois, costumo ser feliz nas minhas buscas. E eis que hoje encontrei um livro sobre... Escrita criativa! Quanta alegria!

Para quem está lendo o blog e não é da turma, explico: durante as nossas aulas de Oficina de Leitura e Produção de Textos falamos sobre escrita criativa, e inclusive nossa dear teacher nos pediu para fazer pesquisas a respeito do tema. Entende agora minha felicidade?

Pelo que pude perceber folheando o livro, “A Escrita Criativa e Formal”, de Mabel Condemarín e Mariana Chadwick, fala sobre a importância da escrita manuscrita, as principais etapas de seu desenvolvimento, os fatores que favorecem seu aprendizado e estratégias para executá-la. Boa parte dos capítulos é voltada para a prática pedagógica com crianças, mas alguns pontos podem ser aplicados com jovens e adultos também. Obviamente o capítulo que mais me chamou a atenção e me motivou a comprar a publicação foi o que fala sobre a escrita criativa propriamente dita, o que ela é e como pode ser exercitada.

Pois é... Como eu disse, você deseja muito uma coisa e a vida se encarrega de tudo. Não desejei um livro que falasse especificamente sobre escrita criativa, mas desejei que meu novo curso universitário fosse um sucesso. As ferramentas começaram a chegar.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

“Livre-se desses cachos.”

Outro dia estava conversando com algumas colegas e me dei conta de uma coisa: todo mundo ali tinha cabelo cacheado, mas somente eu estava usando eles naturalmente. As outras garotas estavam “lisas”. Perguntei por que elas não usavam o cabelo com cachos. Uma delas disse que “cabelo cacheado dá muito trabalho”. As outras concordaram em uníssono.

Será que é isso mesmo? Será que é apenas uma questão de praticidade? Já tive minha fase lisa e lembro que era bem trabalhoso (e bem caro) manter as madeixas devidamente alisadas e hidratadas. Acho que a raiz da questão está bem abaixo do bulbo piloso.

A comunicação pode acontecer das maneiras mais inesperadas. Assim como a roupa ou o perfume que escolhemos usar, a maneira como usamos o cabelo também transmite uma mensagem: o liso é mais comportado, deixa o visual mais clean, mais sofisticado... Mas também pode ser extremamente monótono e sem vida. O cacheado é naturalmente rebelde, desalinhado, transgressor... Mas também tem seu lado delicado e romântico. O cabelo é uma das formas da pessoa informar pro mundo de que jeito escolheu ser sem precisar dizer palavra alguma. E vai de gosto.

Uma cena que vi na TV há algumas semanas exemplifica bem o que quero dizer. Tratou-se de um episódio de um seriado. Uma garota simples é apresentada a um empresário, que vê nela alguma possibilidade de sucesso. Após breve análise, uma das primeiras coisas que ele diz pra ela é “livre-se desses cachos e pinte o cabelo de louro”. Pouco tempo depois a garota se transforma em um dos maiores sex simbols do mundo, ninguém mais ninguém menos que Marilyn Monroe.

Claro que nem sempre é intencional, há muito de inconsciente aí. Mas fica a dica de reflexão para a próxima olhada no espelho: eu, como canal de comunicação, estou transmitindo que tipo de mensagem pro mundo?

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Communication

Há alguns dias atrás eu estava, entre uma atividade e outra, ouvindo músicas de uma banda da qual gosto muito e, de repente, num daqueles estalos estilo “a ficha caiu”, uma das músicas chamou minha atenção de uma forma diferente. Já a tinha ouvido milhares de vezes, mas naquele instante a mensagem teve um novo significado. Deixou de ser poética e melancólica e ficou mais técnica. Fez com que eu lembrasse de um tema recentemente abordado. A letra* diz o seguinte:

“for 27 years I've been trying
to believe and confide in
different people I found

some of them got closer than others
and some wouldn't even bother
and then you came around

I didn't really know what to call you
you didn't know me at all
but I was happy to explain

I never really knew how to move you
so I tried to intrude through
the little holes in your veins
and I saw you

but that's not an invitation!
that's all I get
if this is communication
I disconnect
I've seen you, I know you, but I don't know
how to connect
so I disconnect

you always seem to know where to find me
and I'm still here behind you
in the corner of your eye

I'll never really learn how to love you
but I know that I love you
through the hole in the sky
where I see you

and that's not an invitation!
that's all I get
if this is communication
I disconnect
I've seen you, I know you, but I don't know
how to connectso
I disconnect

well, this is an invitation!
it's not a threat
if you want communication
that's what you get
I'm talking and talking
but I don't know how to connect

and I hold
a record for being patient
with your kind of hesitation

I need you, you want me
but I don't know how to connect
so I disconnect
I disconnect”

A música chama-se “Communication”, da banda The Cardigans. O destaque vai para o refrão:


“but that's not an invitation!
that's all I get
if this is communication
I disconnect
I've seen you, I know you, but I don't know
how to connect
so I disconnect”

Num sentido mais literal, é interessante observar que a pessoa desiste de tentar se comunicar, se “desconecta” do outro, simplesmente por não conseguir ou não saber como fazê-lo. Aí eu viajei na relação emissor x receptor: será que a outra pessoa é tão diferente dela em personalidade que isso bloqueia a interação entre eles? Será que o emissor não está sendo claro o suficiente ao transmitir sua mensagem? Será que um fala alemão e o outro japonês? Como se trata de uma canção e a atmosfera é bem subjetiva, as possibilidades são infinitas.

O “connect / disconnect” aqui pode ter uma série de outras interpretações. Por exemplo, pode ser uma forma de dizer que não houve reciprocidade afetiva; que a pessoa não conseguiu fazer com que o sentimento da outra por ela fosse ativado (como se isso fosse fácil como acionar um interruptor). Os termos “conectar” e “desconectar” lembram muito a relação que temos com máquinas, com tecnologia. Acho que o grande saque, a grande mensagem desta canção pode estar aí: num mundo em que se comunicar pode ser tão fácil, tão rápido e tão eficiente, ainda assim um indivíduo pode não conseguir passar seu recado com sucesso, seja pessoalmente ou através de qualquer outro canal. Quem sabe daqui a alguns anos, se cada ser humano passar a ter um manual de instruções e alguns botões para facilitar a interação...

*Para tradução da letra, clique aqui.