segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Labiata

No último sábado (dia 08) fui conferir o show do cantor e compositor pernambucano Lenine no TCA. O objetivo principal do espetáculo era apresentar o repertório de seu mais novo CD, intitulado ‘Labiata’; no entanto, velhas e conhecidas canções também foram executadas, para alegria do público.

A delicadeza desse novo trabalho de Lenine começa pelo nome do CD. ‘Labiata’ vem de cattleya labiata, espécie de orquídea existente no nordeste brasileiro, muito apreciada pela sua beleza e perfume. Com caráter intimista, as canções primam pela diversidade de ritmos, melodias e mensagens. Destaque para 'É o que me interessa', cuja letra segue abaixo:

Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem
Quem vai virar o jogo
E transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa

Às vezes é o instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto
E é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o seu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurra em meu ouvido
Só o que me interessa

A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa

domingo, 2 de novembro de 2008

Existências que irritam

Recentemente debati com alguém sobre antipatia gratuita. Num nível mais superficial, chegamos a uma conclusão interessante e óbvia.

Ninguém é obrigado a gostar de ninguém. Temos nossas preferências e o direito de não curtir quem quer que seja. Isso serve de justificativa quando seu santo não bate com o de outra pessoa.

Mas... E quando você percebe que alguém não gosta de você? Que você incomoda, intimida, causa asco, desgosto?

É chocante. Uma tristeza. Um insulto, um ultraje.

Um fato. Uma verdade.

Mas... O problema é com você? É seu? Quem não gosta é a outra pessoa! Tudo certo.

Então, retificando, são dois os direitos: o de não gostar de alguém e o de não contentar outrem.

Não se pode agradar a gregos, troianos e humanos, eis tudo.

sábado, 1 de novembro de 2008

Visita íntima

Hoje fui visitar meus avós. Faço esta visita anualmente com a minha mãe, sempre nesta mesma época. É sempre um momento de reflexão, e este ano não poderia ser diferente.

Todo ano Mrs. Pedrecal repete a mesma frase: “É aqui que termina toda vaidade, minha filha”. Concordo, mas vou além das coisas vãs. A maior lição que se pode tira de uma visita ao cemitério é essa: tudo, absolutamente tudo um dia encontra seu fim. Não há bem que nunca se acabe, nem mal que dure para sempre.

É desolador saber que momentos de alegria e felicidade vão acabar, às vezes antes mesmo deles acontecerem. Você olha aquelas pessoas queridas sorrindo e pensa: “Estarão comigo daqui a um ano? Até que momento farão parte da minha vida?”. No entanto, existe o consolo e o alívio de saber que as dores e os sofrimentos também acabarão um dia, e esse pensamento nos dá coragem para seguir adiante. A vida sabe ser generosa: pessoas queridas vão embora, mas, caso não pertençam a nenhuma das “categorias insubstituíveis” (pai, mãe e filhos), fatalmente terão seus lugares ocupados por outras pessoas em algum momento. Só não supera uma dor quem se apega a ela, afinal.

Essa alternância entre momentos bons e ruins me lembra uma comparação que li uma vez entre a vida e uma roda gigante. Num momento se está na parte alta da roda, para logo em seguida estar na parte baixa, e depois novamente sobe, e desce, e... Ou você aprende a lidar com esses altos e baixos ou acaba doente (em ambos, roda gigante e vida).

Tudo passa. E já que não dá pra fugir disso, vamos colaborar com nossa existência e permitir que ela siga com sua sazonalidade. Quem sabe assim ficamos menos tempo na parte de baixo da roda.