quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Intercâmbio

Oficina de Leitura e Produção de Textos é nossa disciplina mais original, e agradeço por ser assim. E pra não perder o hábito, em nossa última aula fizemos mais uma atividade diferente: juntamos nosso grupo com o da profª América e tivemos um grande momento de troca de idéias e de confraternização. O fato da maioria dos componentes dos dois grupos já se conhecerem de outras disciplinas e de corredor facilitou a interação e deixou tudo mais divertido.

A idéia era a de que nossos colegas do grupo de América apresentariam pequenos trabalhos para nossa apreciação e posteriormente seria aberto um espaço para debate sobre os temas expostos. Assim foi feito. Com base em vários textos, dentre eles "O demônio da teoria" de Compagnon e "Ação cultural para a liberdade e outros escritos" de Paulo Freire, excelentes contribuições foram realizadas e o intercâmbio de informações foi bastante produtivo.

Nesta e nas próximas semanas continuaremos com as aulas conjuntas. Num curso como Língua Estrangeira, onde a maioria das disciplinas é teórica e transmitida de maneira tradicionalíssima, essas atividades nos dão fôlego e nos ensinam que é possível fazer diferente. Já estou com saudades desde agora.

domingo, 12 de outubro de 2008

Relacionamentos difíceis

E lá estávamos, à mesa, um em frente ao outro. Pressenti que seria um diálogo difícil, então tratei de criar um clima adequado: nenhum som e muita luz, para que não houvesse ruídos e tudo ficasse bem claro entre nós dois.

Começamos. Toda a minha atenção voltada para aquelas palavras. Ele me dizendo milhares de coisas e eu me angustiando cada vez mais. Eu não sabia do que ele estava falando, da existência daquilo tudo. Fui pega de surpresa, estava sendo mais sofrido do que eu imaginava.

Percebi que a maneira como ele se comunicava não ajudava. O tom cerimonioso, sério aumentava a distância entre nós. Sua linguagem era superior a minha capacidade de compreendê-la. Por mais que eu quisesse e me esforçasse, o pouco que absorvia não era suficiente.

A frieza da mesa me cansou. Levei-o para a cama, imaginando que o ambiente mais confortável, mais aconchegante acabaria com as formalidades e faria o diálogo fluir com mais facilidade. Ledo engano.

Você precisa esperar até estar preparado para viver certos relacionamentos. Mesmo que você dê o melhor de si, o seu melhor pode não ser o tanto necessário naquele instante. Se há a certeza de que vale a pena investir mas o diálogo não é possível naquele momento, é melhor parar, mas consciente de que será um intervalo provisório: mais tarde aquela experiência poderá ser vivida novamente em sua plenitude.

Eu sabia que aquela despedida era temporária. Eu sabia que ainda tinha muito o que aprender com ele, por isso me permiti abandoná-lo e esperar para retomar a comunicação mais adiante, com mais maturidade e um maior conhecimento do assunto que tínhamos para discutir.

Peguei a pasta e guardei o texto. Até breve, Mikhail Bakhtin. Prometo revê-lo o quanto antes, assim que me sentir mais apta a entender o que você tem a me dizer sobre gêneros do discurso.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Poesias

Nossa última aula de Oficina foi sobre a escrita poética. Foi uma aula difícil pra mim. Meu relacionamento com a poesia nunca foi dos melhores. Eu gosto dela, algumas vezes já chegou a me emocionar profundamente, até já me animei e postei um trechinho de uma que gosto aqui no blog... Mas a verdade é que às vezes, dependendo da poesia, a dificuldade que sinto em entendê-la e interpretá-la é tão grande que a frustração me arrasta para leituras mais amigas. Insensível? Não. Apenas nunca me dediquei muito a esta arte e sou racional o suficiente para não processar certas abstrações.

Mas os racionais também podem ser sensíveis e têm boa vontade. É por isso que hoje estou aqui, com muito esforço, para falar sobre poesia. E na minha busca sobre o que escrever, foi com muita surpresa e felicidade que reencontrei este conhecido poema de Nicolas Behr, que fez parte de minha adolescência e que eu acabei perdendo no meio de tantas outras palavras:


Receita

Ingredientes:


2 conflitos de gerações

4 esperanças perdidas
3 litros de sangue fervido
5 sonhos eróticos
2 canções dos Beatles

Modo de preparar:

Dissolva os sonhos eróticos nos dois litros de sangue fervido e deixe gelar seu coração.

Leve a mistura ao fogo, adicionando dois conflitos de gerações às esperanças perdidas.

Corte tudo em pedacinhos e repita com as canções dos Beatles o mesmo processo usado com os sonhos eróticos, mas desta vez deixe ferver um pouco mais e mexa até dissolver.

Parte do sangue pode ser substituído por suco de groselha, mas os resultados não serão os mesmos.

Sirva o poema simples ou com ilusões.


Só que esse poema, apesar de eu ter um carinho especial por ele, é muito “fácil”. Eliana me orientou a ler poesias desafiadoras, daquelas pra não entender mesmo, que fazem as sinapses cerebrais dançarem loucamente. Então parti para João Cabral de Melo Neto:


Fábula de um arquiteto

A arquitetura como construir portas
de abrir; ou como construir o aberto;
construir, não como ilhar e prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas;
casas exclusivamente portas e tecto.
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.

2.

Até que, tantos livres o amedrontando,

renegou dar a viver no claro e aberto.
Onde vãos de abrir, ele foi amurando
opacos de fechar; onde vidro, concreto;
até refechar o homem: na capela útero,
com confortos de matriz, outra vez feto.


A conclusão a que cheguei com minha pesquisa foi a de que existem poesias para todos os gostos: das mais simplórias às mais complexas, das mais secas às que usam e abusam dos efeitos de sonoridade, das mais bem-humoradas às mais lacerantes... E sei que parte do meu trauma vem do fato de no segundo grau meus professores terem delicadamente nos forçado a ler poesias pertencentes ao grupo das mais incompreensíveis para a mente do adolescente médio (a de Behr foi uma feliz exceção). Portanto, me redimo agora e proponho a paz com a poesia.

À propósito... O poema acima de Melo Neto fala sobre ações que tanto podem libertar o homem quanto prendê-lo e isolá-lo. Se alguém entendeu outra coisa, por favor me explica depois.